Cristal
manhoso, vivo na memória do garimpo
A
Primeira Cia de Cristal
Quantas estórias!... Afinal foi em 1912 que descobriu-se o famoso Garimpão de São Jorge e o cristal era vendido para o exterior. Mas o cristal sempre foi manhoso. É lógico que o preço do mercado influenciava a força e a coragem dos garimpeiros. No período 1940/44 havia mais ou menos 2.000 pessoas em São Jorge. Muita gente bamburrou. Segundo o Sr. Rodolfo, antigo garimpeiro, só se via fardo de jabá na casa dos garimpeiros.
Vindos pela antiga estrada de carro que era pelo Rodeador ou pela estrada atual, que era uma antiga estrada cavaleira, os garimpeiros chegavam e partiam à procura de seus sonhos.
Um dos pioneiros, que ainda mora em São Jorge, é o Sr. Claro Alves Machado que veio do município de Formosa atrás do cristal. Construiu em 1953 uma casa forte, de adobe, que contrastava com as construções de palha da região. Ali instalou comércio e em 1954 vendeu esta casa para nela funcionar os escritórios da primeira Cia de Cristal da região.
A firma do paulista conhecido como Dr. Borge empregava cerca de 30 homens, possuindo, na época, 1 trator TD 18, 1 caminhão, motor de luz, 1 Jeep, 1 camionete, 1 compressor a ar, vagonetes com trilhos e 1 rádio amador. O conhecido Areião, ponto de observação de OVNIS dos turistas, ainda hoje apresenta as cicatrizes da tentativa de se tirar cristal com auxílio de trator. A vocação ecológica e turística da região já estava delineada. O trator quebrou, o preço do cristal caiu e só em 1960 os garimpeiros, no braço, conseguiram retirar grande quantidade de cristal do Areião. Nesta época houve um novo ciclo econômico do cristal quando vários veios passaram a produzir: Estiva, Vaginha, Pedrão, Areião e novamente o Garimpão.
Já contava o finado José Caboclo: quando o preço caia o jeito era vender 8 arrobas de cristal a troco de um jegue - pedras que pesavam no mínimo 1/2 quilo. Segundo contava magoado o compadre, uma vez ele fez esta troca, amarrou o jegue no garimpo e assistiu quieto o jegue ser comigo pela onça. No outro dia, ele pegou o único cavalo que restou e foi-se embora para retornar após alguns anos.
Com a saída da primeira Cia de Cristal da região, o Sr. Eupídio Pires e D. Lindomar Alves da Costa Pires passaram a morar na antiga casa de adobe. Dona Lindu, como era mais conhecida, foi a primeira professora do Vilarejo, trabalhou duro, ensinando as três primeiras séries numa escola onde foi também a primeira diretora.
Esses adobes fortes, com mais de 40 anos, vêm assistindo impávido as mudanças em São Jorge. Abrigou durante muitos anos a família de um dos moradores mais antigos e queridos da Vila, o Sr. Cecílio e D. Chiquinha.
Hoje, esta casa de roça, típica do interior de Goiás, foi toda transada rusticamente para receber os turistas que se encantam com as belezas do lugar. Da antiga Cia de Cristal restaram muitas lascas que ainda podem ser encontradas nos jardins da Pousada Águas de Março.
Os donos da Pousada, Lutero e Graça, investiram na antiga casa. O projeto de arquitetura conservou a estrutura da velha casa de adobe, incorporou as contribuições arquitetônicas das casas alternativas do Moinho e as criações dos artistas da região, numa combinação de respeito à história e de improvisação criativa resultaram num projeto inusitado. Os móveis, fabricados a partir do aproveitamento das cascas de árvore da região, são criações do Balanço que tem feito escola. Vários trabalhos do Moacir, pintor primitivista filho de São Jorge, objetos antigos, quadros e presentes de hóspedes assíduos compõem a originalidade do espaço.
Neste espaço privilegiado os hóspedes podem contemplar as terras dos sonhos dos garimpeiros de antanho.